É a aspiração de líquido causada por submersão ou imersão. O termo aspiração refere-se à entrada de líquido nas vias aéreas (traqueia, b...
É a aspiração de líquido causada por submersão ou imersão. O termo aspiração refere-se à entrada de líquido nas vias aéreas (traqueia, brônquios e pulmões), sendo considerada uma condição anormal (patológica).
Fisiopatologia
No afogamento, a função respiratória fica prejudicada pela entrada de líquido nas vias aéreas, interferindo na troca de O2 - CO2 de duas formas principais: pela obstrução parcial (frequente) ou completa (raramente) das vias aéreas superiores por uma coluna de líquido e/ou mais frequentemente ou pela inundação dos alvéolos com este líquido.
Estas 2 situações provocam a diminuição ou abolição da passagem do O2 para a circulação e do CO2 para o meio externo. Estes efeitos que o afogamento provoca no organismo serão maiores ou menores de acordo com a quantidade de líquido aspirado. Podemos observar que a aspiração de água provoca dois efeitos principais que se relacionam entre si (efeitos pulmonares e descarga de adrenalina), e um outro de menor importância (efeitos no intravascular).
A descarga adrenérgica (liberação de adrenalina no sangue) em vigência da baixa de oxigênio, do stress do afogamento e do exercício físico realizado na tentativa de se salvar, provocam o aumento da força e da frequência dos batimentos cardíacos podendo até gerar arritmias cardíaca (batimentos cardíacos anormais) que podem levar a parada do coração. A água deglutida e aspirada, reduz a temperatura do corpo (hipotermia) e produz mínimas alterações sobre o sangue. A quantidade de oxigênio disponível nas células é o fator que determina o tempo de tolerância e portanto o sofrimento destes órgãos.
Estudos demonstraram que os afogamentos em água do mar não alteram a qualidade, somente comprometendo a quantidade do surfactante pulmonar, diferentemente dos afogamentos em água doce onde ocorrem alterações qualitativas e quantitativas produzindo maior grau de áreas com atelectasia.
A água do mar (NaCl a 3%) apresenta uma maior concentração de sal que o plasma sanguíneo resultando nestes casos em passagem através da membrana alveolar, do líquido do vaso para os pulmões, aumentando o "encharcamento" pulmonar e comprometendo ainda mais a troca de oxigênio. Este encharcamento pulmonar se reverterá quando o sangue equilibrar a concentração com o líquido no pulmão cheio de sal (NaCl) e, então, essa mistura passará a ser absorvida gradativamente para os vasos sanguíneos e é eliminada pela urina, o que ocorre em horas a dias dependendo do caso.
A aspiração de ambos os tipos de água promovem alveolite, edema pulmonar não cardiogênico, e aumento do shunt intrapulmonar que levam a hipoxemia. Alguns autores descrevem uma maior gravidade na lesão pulmonar em água doce outros estudos não apresentaram maior mortalidade do que os casos em água do mar ficando a questão ainda em aberto. Em seres humanos parece que aspirações tão pequenas quanto 1 a 3 ml/kg resultam em grande alteração na troca gasosa pulmonar e redução de 10% a 40% na complacência pulmonar. No caso de afogamento em água doce (praticamente sem concentração), que tem concentração menor que o plasma sanguíneo, a água passará rapidamente do pulmão para os vasos, aumentando o volume circulante nos vasos sanguíneos (hipervolemia).
Existem variações fisiopatológicas entre os afogamentos em água do mar e água doce. Apesar de cada um ter especificamente suas características, as variações são de pequena monta do ponto vista terapêutico. As mais significativas alterações fisiopatológicas decorrem de hipoxemia e acidose metabólica. Não existe portanto, diferenças entre água doce ou mar quanto ao tratamento a ser empregado. Afogamento em, água salgada não causa hipovolemia, e em água doce não causa hipervolemia, hemólise ou hipercalemia.
Há alguns anos, pensava-se que as alterações eletrolíticas (sódio e potássio) e hídricas eram primariamente importantes. Hoje, sabemos que os afogamentos de água doce ou do mar não necessitam de qualquer tratamento diferenciado entre si.
A penetração de água no pulmão leva a uma inflamação pulmonar (pneumonite), podendo causar menos frequentemente uma pneumonia (infecção pulmonar) como complicação.
As células do organismo são diferenciadas para desempenhar suas diversas funções. Cada tipo de célula tem um tempo de resistência á anóxia (falta de O2): as células epidérmicas (pele) podem resistir até 24 horas na ausência de O2; a fibra cardíaca resiste cerca de 5 minutos até 1 hora, mas as células do cérebro (neurônios) não sobrevivem a um espaço de tempo superior a 4 a 6 minutos começando a se degenerar e a morrer após este período.
Tipos de Acidentes na Água
Síndrome de Imersão - A Hidrocussão ou Síndrome de Imersão (vulgarmente conhecida como "choque térmico") é um acidente desencadeado por uma súbita exposição á água fria levando a uma parada cárdio-respiratória (PCR). Parece que esta situação pode ser evitada se molharmos a face e a nuca antes de mergulhar. Este fenômeno ainda não é muito compreendido pela medicina.
Hipotermia - A exposição da vítima à água fria reduz a temperatura normal do corpo humano, provocando hipotermia que podem acarretar em perda da consciência com afogamento secundário ou até uma arritmia cardíaca com parada cardíaca e consequente morte.
Principais Causas de Afogamento
Uso de drogas = 32,2%
Epilepsia (crise convulsiva) = 18,1%
Traumatismos = 16,3%
Doenças cardíacas e/ou pulmonares = 14,1%
Acidentes de mergulho = 3,7%
Não especificadas = 11,6%
Fonte: 17º GB – 2002
Fases do Afogamento
- Medo ou pânico de afogar;
- Luta para manter-se na superfície;
- Apnéia voluntária na hora da submersão, cujo tempo dependerá da capacidade física de cada indivíduo;
- Aspiração inicial de líquido durante a submersão que pode provocar irritação nas vias aéreas, suficiente para promover, em certos casos (menos de 2%), um espasmo da glote tão forte a ponto de impedir uma nova entrada de água (afogamento do tipo seco, água nos pulmões, provavelmente não existe);
- Em mais de 98% dos casos não ocorre espasmo glótico, havendo entrada de água em vias aéreas, inundando o pulmão (afogamento clássico).
Diferença entre Resgate e Afogamento
O primeiro passo no entendimento do processo de afogamento é diferenciarmos entre Resgate e Afogamento. No Salvamento ou Resgate a Vítima resgatada da água que não apresenta tosse ou espuma na boca e/ou nariz , podendo ser liberada no local do acidente sem necessitar de atendimento médico, após avaliação do socorrista quando consciente.
OBS: Todos os casos de salvamento podem apresentar hipotermia (temperatura do corpo < 35º C), náuseas, vômitos, distensão abdominal, tremores, cefaléia (dor de cabeça), mal estar, cansaço, dores musculares, dor no tórax, diarréia e outros sintomas inespecíficos. Grandes partes destes sintomas são decorrentes do esforço físico realizado dentro da água sob stress emocional do medo, durante a tentativa de se salvar do afogamento, não sendo primordial para a classificação do grau de afogamento.
FONTE DE REFERÊNCIA
MTBRESG - RESGATE E EMERGÊNCIAS MÉDICAS
Direitos Autorais: Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo.