No campo das operações verticais, sejam elas voltadas para atividades de resgate, escalada industrial, ou procedimentos de salvamento em...

No campo das operações verticais, sejam elas voltadas para atividades de resgate, escalada industrial, ou procedimentos de salvamento em altura realizados por bombeiros e equipes de emergência, o controle da progressão e a garantia de segurança da ancoragem são elementos cruciais. Nesse cenário, os bloqueadores mecânicos representam uma das interfaces mais sofisticadas entre a física aplicada e a segurança humana.
Esses dispositivos, projetados para interagir com a corda de forma a permitir movimento em apenas uma direção e bloqueio instantâneo sob carga contrária, constituem um pilar essencial nos sistemas de ascensão, resgate e vantagem mecânica. Diferentemente de simples conectores ou travas manuais, os bloqueadores mecânicos utilizam princípios de mecânica excêntrica, fricção controlada e geometria canaletada para garantir que, mesmo sob intenso esforço, o operador mantenha o domínio total da corda e da progressão vertical.
A sofisticação desses aparelhos reflete não apenas a evolução tecnológica do equipamento de salvamento, mas também a integração entre engenharia de materiais, ergonomia operacional e normas de segurança internacionalmente reconhecidas, como as estabelecidas pela EN 567 (equipamentos de montanhismo e escalada, bloqueadores de corda) e pela NFPA 1983 (Standard on Life Safety Rope and Equipment for Emergency Services).
Dentre os principais modelos utilizados em ambientes operacionais de salvamento, destacam-se o bloqueador estrutural (também denominado rescucender) e o ascensor de punho, cada qual concebido com mecanismos próprios para travamento, manipulação e progressão, sendo ambos indispensáveis nas técnicas avançadas de resgate vertical e deslocamento controlado.
Bloqueador Estrutural (Rescucender)
Conhecido no meio técnico como rescucender, é uma peça de engenharia de precisão desenvolvida para operar como um bloqueador de carga direcional, cuja principal função é permitir o deslizamento da corda em um sentido e travá-la instantaneamente no sentido oposto.
O núcleo funcional desse equipamento reside em dois elementos primordiais: a canaleta fechada e a cunha excêntrica. A canaleta, que constitui o corpo principal do aparelho, atua como guia para a corda, mantendo-a alinhada e em contato direto com a superfície de atrito. Já a cunha excêntrica, peça móvel e geralmente de aço temperado ou liga de alumínio de alta resistência, exerce pressão sobre a corda ao ser acionada sob carga, prensando-a contra a canaleta. Essa pressão gera um travamento por atrito e compressão, capaz de suportar grandes forças descendentes sem comprometer a integridade da corda.
Rescucender
Para sua montagem, o operador deve desengatar um pino removível, desmontando o corpo do bloqueador em três partes distintas, o que possibilita a introdução da corda. Essa etapa requer atenção meticulosa, uma vez que a orientação de montagem define o sentido de travamento, sendo essencial verificar o correto direcionamento para evitar falhas operacionais.
Um aspecto crítico que merece ênfase é o risco de perda da cunha excêntrica, comumente associado ao rompimento do cabo de segurança que conecta a peça ao corpo principal. Essa falha, muitas vezes decorrente de fadiga mecânica após longos períodos de uso ou falta de manutenção preventiva, pode comprometer a funcionalidade do equipamento em situações de emergência. Por isso, recomenda-se inspeções regulares quanto ao estado do cabo, da mola de retorno e da superfície da cunha, observando sinais de deformação, corrosão ou desgaste irregular.
Em termos operacionais, o rescucender é amplamente utilizado em sistemas de vantagem mecânica, backup de segurança e bloqueio estrutural de cordas principais, sendo uma ferramenta fundamental em resgates com múltiplos operadores ou em cenários onde o controle direcional da carga é indispensável.
Ascensor de Punho
Representa a evolução prática do bloqueador mecânico voltado à ascensão controlada em corda, sendo amplamente utilizado tanto em atividades de resgate técnico quanto em escaladas profissionais. Sua configuração é caracterizada pela canaleta aberta lateralmente, que permite a inserção rápida da corda, e por uma cunha dentada com mola de pressão, responsável por travar a corda sob carga descendente.
O princípio mecânico que rege o funcionamento desse dispositivo é baseado na compressão dentada progressiva, onde a mola mantém a cunha em contato constante com a corda. Quando o operador aplica força ascendente, o atrito é minimizado, permitindo o deslizamento suave; porém, qualquer tentativa de movimento descendente aciona o travamento imediato, garantindo retenção e segurança.
Ascensor de punho
Outro elemento determinante é a ergonomia da empunhadura. O corpo do ascensor é projetado com uma manopla anatômica, geralmente revestida de borracha termoplástica ou polímero antideslizante, permitindo firmeza e conforto durante longas subidas. Cada modelo é projetado para uso unilateral um para a mão direita e outro para a esquerda o que viabiliza o uso simultâneo e alternado em técnicas de progressão como o “jumaring” ou o “prusik mecânico”.
O ascensor de punho é frequentemente empregado em conjunto com pedais ou fitas de estribo, formando sistemas de ascensão autônoma, ou integrado a sistemas de resgate vertical para facilitar a movimentação de vítimas em espaços confinados ou ambientes de difícil acesso. Seu desempenho é maximizado quando utilizado com cordas de diâmetro compatível (geralmente entre 8 e 13 mm) e devidamente certificadas, pois o travamento depende diretamente da interação entre o perfil dos dentes e a estrutura da corda.
Do ponto de vista de segurança operacional, é imprescindível que o operador compreenda que o ascensor de punho não é um dispositivo de retenção primária em sistemas de ancoragem, devendo ser utilizado apenas para progressão ou apoio mecânico. O mau uso, como a substituição de um sistema de backup por ascensores, pode resultar em falhas catastróficas em caso de choque dinâmico.
A Integração dos Bloqueadores Mecânicos
Os bloqueadores mecânicos, em todas as suas variantes, simbolizam o ponto de interseção entre tecnologia, ciência dos materiais e técnica operacional. O bloqueador estrutural e o ascensor de punho, embora distintos em design e finalidade, compartilham o mesmo propósito: converter a força e o movimento em segurança e controle.
Seu uso exige não apenas conhecimento técnico, mas também disciplina operacional, inspeção constante e domínio das leis físicas que regem o atrito e a carga sob tensão. Em ambientes de salvamento e combate a incêndio, onde a vida humana pode depender do travamento de uma corda, esses equipamentos representam a extensão física da confiança e da competência profissional do bombeiro ou resgatista.
Assim, compreender a estrutura, o funcionamento e as limitações dos bloqueadores mecânicos é mais do que uma exigência técnica é um ato de responsabilidade e maestria, fundamental para quem atua na linha de frente da segurança vertical e do resgate em altura.
FONTE DE REFERÊNCIA
CESBOM - CENTRO DE ESTUDOS PARA BOMBEIROS
MANUAL DE SALVAMENTO EM ALTURA (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)

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