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Atendimento a Crise de Tentativa de Suicídio

O fenômeno do suicídio, apesar de ser uma das mais antigas manifestações do sofrimento humano, continua sendo um dos maiores desafios co...

O fenômeno do suicídio, apesar de ser uma das mais antigas manifestações do sofrimento humano, continua sendo um dos maiores desafios contemporâneos para os profissionais de emergência, saúde e segurança pública. A complexidade que envolve esse comportamento autodestrutivo transcende o campo psicológico, atingindo dimensões sociais, culturais, espirituais e biológicas, que se interligam de maneira sutil e multifatorial. Dentro desse contexto, a atuação dos bombeiros e socorristas em situações que envolvem risco de suicídio demanda não apenas técnica e preparo operacional, mas também profundo conhecimento humano, sensibilidade e discernimento emocional.

A identificação de uma pessoa sob risco de suicídio é um processo que exige atenção minuciosa e percepção apurada, pois, na maioria das vezes, os sinais emitidos não são diretos nem facilmente reconhecíveis. Muitas vítimas não verbalizam seu sofrimento, ocultando-o sob comportamentos aparentemente normais, enquanto outras expressam de forma velada sua dor por meio de atitudes, falas e mudanças sutis de conduta. Assim, o reconhecimento precoce dos fatores de risco, associado a uma postura empática e técnica dos profissionais de resposta, pode ser o divisor entre a vida e a morte.

Nesse cenário, o papel do bombeiro ultrapassa o domínio da intervenção física e adentra o campo da comunicação terapêutica e da abordagem humanizada. A linha tênue que separa a tentativa de suicídio do ato consumado pode ser influenciada pela forma como a vítima é acolhida, escutada e compreendida. Por isso, torna-se essencial que cada ação, palavra e gesto sejam cuidadosamente ponderados, pois a vítima, em seu estado de vulnerabilidade extrema, interpreta intensamente tudo o que ocorre ao seu redor.

Dessa forma, compreender como identificar uma pessoa sob risco de suicídio, adotar uma abordagem operacional adequada e saber como conduzir a comunicação e o acolhimento são pilares fundamentais para a atuação eficiente e segura nas ocorrências dessa natureza. O objetivo não é apenas evitar um desfecho fatal, mas também promover um atendimento que valorize a dignidade humana, reconhecendo a complexidade emocional envolvida e a necessidade de agir com equilíbrio, empatia e preparo técnico.

Como Identificar uma Pessoa sob Risco de Suicídio

Nem sempre é fácil diagnosticar uma tentativa de suicídio. Para identificar esses casos é importante estar atento a alguns fatores de risco, tais como: 
- Tentativas anteriores de suicídio.
- Ideação de suicídio verbalizada.
- História familiar de suicídio ou tentativa de suicídio.
- Conhecimento de casos recentes de suicídio.
- Morte recente de alguém próximo.
- Fim de relacionamento afetivo.
- Conflitos familiares.
- História de violência doméstica.
- História de violência sexual.
- Depressão e doença psiquiátrica.
- Mudança nas condições de saúde ou de estado físico.
- Alcoolismo e uso de drogas.
- Isolamento social.
- Problemas econômicos e de desemprego.

Abordagem Operacional

De acordo com o método suicida adotado pela vítima, é relevante adotar todas as medidas cabíveis no sentido de garantir a segurança da cena, no que se refere aos profissionais de bombeiros, mesmo que encarregado da abordagem psicológica, conforme demonstra a Figura 1, instalações e equipamentos envolvidos, outras pessoas e também à vítima, conforme mostra a Figura 2, que tem por finalidade minimizar possibilidades de lesão grave, no caso de queda da vítima, quer intencional ou acidental.

Figura 1 - Segurança do bombeiro durante a abordagem psicológica

Figura 2 - Colchão armado no possível local de queda da vítima

Os exemplos de segurança das Figuras 1 e 2 aplicam-se a casos de tentativa de suicídio no qual a vítima ameaça saltar de local elevado, entretanto devem ser adotados os procedimentos conforme Procedimento Operacional Padrão específico, de acordo com o método de suicídio escolhido pela vítima, além de atentar para:

Orientações Gerais
- Ao chegar próximo ao local da ocorrência desligue a sirene, quanto mais discreta for à aproximação, maior será a chance de se relacionar com a vítima de maneira positiva.
- Estabelecer relação com a vítima apresentando-se.
- Chamar a vítima pelo nome.
- Manter concentração na conversação com a vítima.
- Utilizar linguagem compreensível, falar pausadamente e não utilizar termos técnicos.
- Evitar conversas paralelas entre os membros da equipe de resgate na frente da vítima.
- Ter uma postura impecável, calma, gestos confiantes e não ameaçadores, ser profissional e transmitir segurança.
- Evitar gritar ou mesmo usar força física com a vítima.
- Deixar a vítima falar, deixando-a o mais confortável possível.
- Nunca deixar a vítima sozinha até o término de seu resgate.
- Antecipar reações para sua maior segurança.
- Questionar familiares e/ou testemunhas sobre histórico e/ou motivos geradores do comportamento atual.

Conduta ao Lidar com Tentativa de Suicídio
- Chegar ao local da ocorrência de forma discreta, com sirenes desligadas e sem criar tumultos.
- Estudar inicialmente o local, verificando riscos potenciais para a equipe de resgate e para a vítima, neutralizando-os ou minimizando-os.
- Isolar o local, impedindo aproximação de curiosos.
- Verificar necessidade de apoio material e/ou pessoal e comunicar a Central de Operações.
- O contato com a vítima deverá ser efetuado por apenas um integrante da equipe, a fim de estabelecer uma relação de confiança. Os outros permanecem à distância sem interferir no diálogo.
- Manter imediatamente diálogo com a vítima, mostrando-se calmo e seguro, procurando conquistar sua confiança.
- Manter observação constante da vítima e não deixá-la sozinha por nenhum instante até o término do atendimento.
- Conversar com a vítima de forma pausada, firme, clara, e num tom de voz adequado à situação.
- Jamais assumir qualquer atitude hostil para com a vítima.
- Procurar descobrir qual o principal motivo de sua atitude.
- Procurar obter informações sobre seus antecedentes.
- Após ter conquistado sua confiança, iniciar o trabalho no sentido de dissuadi-la, sempre oferecendo segurança e proteção. 
- Após ter conseguido dominar a vítima, continuar tratando-a com respeito e consideração, conduzindo-a para o hospital.

Como Abordar a Vítima

A observação e a comunicação são duas ações das mais importantes para se ajudar ao paciente com comprometimento psíquico ou não. Deve-se observar as ações do paciente para que possa ter uma leitura de seu estado e poder através de ações terapêuticas, principalmente a inter-relação através da comunicação, trazer alívio e melhora de seu sofrimento.

A comunicação pode ser feita através da mensagem verbal, como a fala e a escrita, como pode ser extraverbal que é aquela realizada através da expressão corporal (postura corporal e mímica facial).

Nesse sentido, muitas vezes o que é expresso por meio da fala, se contrapõem com o que o corpo ou mímica do rosto expressa. Por exemplo, pode-se dizer adorar uma pessoa ao mesmo tempo em que seu rosto expressa ódio, raiva e o tom de voz se torna elevado, demonstrando ira também.

Faz-se necessário então que seja observada a linguagem extraverbal dos indivíduos que foram atendidos, porque dão informações valiosas para dar-lhes uma assistência, assim como, tentar controlar a própria comunicação extraverbal, passando informações à vítima que pode utilizá-las de uma maneira adequada.


FONTE DE REFERÊNCIA
CESBOM - CENTRO DE ESTUDOS PARA BOMBEIROS
MANUAL DE GERENCIAMENTO DE CRISES ENVOLVENDO SUICIDAS E ATENTADOS TERRORISTAS (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)