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Entendendo a Epilepsia

É uma condição neurológica crônica que afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, sendo um dos transtornos neurológicos mais comuns ...

É uma condição neurológica crônica que afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, sendo um dos transtornos neurológicos mais comuns em nível global, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Caracteriza-se por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro, levando a crises epilépticas que variam em intensidade e manifestação. Essas crises podem se apresentar de diferentes formas, desde pequenas alterações sensoriais e motoras até episódios convulsivos generalizados. A complexidade da epilepsia reside em suas múltiplas causas, manifestações clínicas variadas e impactos significativos na vida dos pacientes. 

Historicamente, a epilepsia foi cercada de mitos e estigmas. Em diversas culturas antigas, as crises epilépticas eram interpretadas como manifestações de possessão espiritual ou influência divina. Somente com o avanço da medicina e da neurociência foi possível entender que a epilepsia é um distúrbio neurológico, não relacionado a fatores sobrenaturais, mas sim a disfunções elétricas cerebrais. Essa compreensão moderna abriu portas para tratamentos mais eficazes e para uma abordagem mais humanizada e informada sobre o tema.

Existem diferentes tipos de crises epilépticas, classificadas em dois grandes grupos: crises focais e crises generalizadas. As crises focais ocorrem em uma área específica do cérebro e podem ser simples (sem perda de consciência) ou complexas (com alteração da consciência). Já as crises generalizadas envolvem ambos os hemisférios cerebrais desde o início e incluem subtipos como crises tônico-clônicas (convulsivas), crises de ausência e crises mioclônicas.

As causas da epilepsia são diversas e podem incluir fatores genéticos, traumas cranianos, infecções cerebrais, acidentes vasculares cerebrais (AVC), tumores e malformações congênitas. Em alguns casos, no entanto, a origem permanece desconhecida, sendo classificada como epilepsia idiopática. A identificação precoce e o diagnóstico correto são fundamentais para um manejo eficaz da condição, reduzindo a frequência e a gravidade das crises.

Além do impacto físico, a epilepsia também afeta o bem-estar emocional e social dos indivíduos. O medo de uma crise repentina e o estigma associado podem gerar ansiedade, depressão e isolamento social. A falta de informação e os preconceitos reforçam essas dificuldades, dificultando a integração social e a qualidade de vida dos pacientes. Por isso, é crucial promover campanhas de conscientização para desmistificar a condição e capacitar a população para lidar de forma adequada com episódios de crise.

Fisiopatologia da Epilepsia

Resulta de um desequilíbrio entre os mecanismos excitatórios e inibitórios no sistema nervoso central. Normalmente, o cérebro mantém um rigoroso controle sobre a transmissão dos impulsos elétricos entre os neurônios, garantindo o funcionamento coordenado das atividades motoras, sensoriais e cognitivas. Na epilepsia, esse controle é interrompido por descargas elétricas anormais, levando a episódios de hiperatividade neuronal.

Essas descargas podem surgir em áreas específicas do córtex cerebral e se espalhar rapidamente para outras regiões. Dependendo da localização e da extensão da atividade elétrica anormal, os sintomas podem variar significativamente, indo desde sensações subjetivas (aura) até convulsões tônico-clônicas intensas. A presença de "aura" pode, em alguns casos, servir como um aviso prévio, permitindo que a pessoa busque um local seguro antes da crise se manifestar de forma mais intensa.

Tipos de Crises Epilépticas

Para melhor compreensão, as crises epilépticas são classificadas de acordo com a origem no cérebro, o tipo de sintomas e a atividade elétrica observada durante os episódios. A classificação moderna, definida pela International League Against Epilepsy (ILAE), segmenta as crises em três categorias principais: crises focais, crises generalizadas e crises de início desconhecido. Cada uma dessas categorias apresenta subtipos específicos, com características clínicas e eletrofisiológicas distintas.

Crises Focais

As crises focais, também conhecidas como crises parciais, têm origem em uma região específica do córtex cerebral. Elas podem permanecer localizadas ou se expandir para outras áreas, evoluindo para uma crise generalizada. As crises focais são subdivididas em:

Focais Simples (Sem Comprometimento da Consciência): Durante essas crises, o indivíduo permanece consciente, mas pode apresentar alterações motoras, sensoriais, autonômicas ou psíquicas. Exemplos incluem movimentos involuntários em uma parte do corpo, sensações anormais como formigamento, alucinações olfativas ou visuais e alterações emocionais intensas.

Focais Complexas (Com Comprometimento da Consciência): Nessas crises, há alteração da consciência, levando a um estado de confusão e perda parcial do contato com o ambiente. O paciente pode realizar movimentos automáticos e repetitivos, como mastigar, esfregar as mãos ou andar sem rumo (automatismos). Em muitos casos, a pessoa não se recorda do evento após a crise.

Focais Evoluindo para Generalizadas: Quando a descarga elétrica inicial se propaga para ambos os hemisférios cerebrais, a crise se torna secundariamente generalizada, frequentemente apresentando manifestações tônico-clônicas.

Crises Generalizadas

As crises generalizadas afetam ambos os hemisférios cerebrais desde o início. São caracterizadas por uma perda generalizada de consciência e manifestações motoras amplas. Os principais subtipos são:

Crise de Ausência (Pequeno Mal): Caracterizada por uma breve interrupção da consciência, geralmente durando de 5 a 15 segundos, sem movimentos significativos. O paciente pode simplesmente "desligar" e retomar as atividades normalmente após o episódio.

Crise Mioclônica: Consiste em contrações musculares breves e súbitas, geralmente nos braços e pernas. Esses espasmos podem ocorrer isoladamente ou em sequência.

Crise Tônica: Caracterizada por um aumento súbito do tônus muscular, resultando em rigidez em todo o corpo ou em membros específicos. Essas crises são frequentemente associadas a quedas abruptas.

Crise Clônica: Apresenta contrações musculares rítmicas e repetitivas. Embora menos comuns que as crises tônico-clônicas, podem ocorrer isoladamente.

Crise Tônico-Clônica (Grande Mal): Este é o tipo mais reconhecido de crise epiléptica, caracterizado por duas fases: a fase tônica (rigidez muscular generalizada) seguida da fase clônica (espasmos repetitivos). Durante o episódio, há perda de consciência, movimentos violentos e, frequentemente, mordida da língua ou perda do controle esfincteriano.

Crise Atônica: Conhecida também como "drop attack", essa crise se manifesta pela perda súbita do tônus muscular, levando a quedas inesperadas.

Crises de Início Desconhecido

Quando a origem da descarga elétrica não pode ser identificada no momento do diagnóstico, a crise é classificada como de início desconhecido. À medida que os exames avançam e a origem é determinada, a crise pode ser reclassificada para focal ou generalizada.

Procedimentos Corretos Durante uma Crise Epiléptica

O atendimento adequado a uma pessoa em crise epiléptica é essencial para garantir a segurança do paciente e prevenir complicações. Durante uma crise, algumas medidas podem ser tomadas para minimizar riscos e evitar lesões:

Manter a Calma e Proteger o Paciente: Ao identificar uma crise epiléptica, o primeiro passo é manter a calma. A aproximação tranquila e segura é fundamental para ajudar o paciente. Afaste objetos que possam causar ferimentos e, se possível, coloque algo macio sob a cabeça da pessoa para protegê-la de impactos no chão.

Posicionar em Local Seguro: Caso o local seja perigoso (próximo a escadas, piscinas, ou trânsito, por exemplo), tente mover o paciente com cuidado para uma área segura. No entanto, evite movê-lo desnecessariamente durante a crise, pois isso pode causar lesões.

Evitar Restrições: Durante a convulsão, não se deve tentar segurar ou imobilizar os movimentos do paciente. A força aplicada pode resultar em fraturas ou lesões musculares. Os espasmos são involuntários e cessarão naturalmente.

Posicionar a Pessoa Lateralmente (Posição de Recuperação): Sim, é recomendado colocar a pessoa de lado (posição lateral de segurança), principalmente após as convulsões cessarem. Essa posição facilita a respiração, evita aspiração de saliva, vômito ou sangue (caso haja mordida na língua) e permite que as vias aéreas se mantenham desobstruídas.

Não Colocar Objetos na Boca: Um dos mitos mais comuns é a tentativa de colocar objetos na boca do paciente para evitar que ele "engula a língua". Isso é falso e perigoso. Além de poder causar lesões na mandíbula e nos dentes, o objeto pode obstruir as vias aéreas. A língua não pode ser engolida, mas pode se morder; entretanto, a tentativa de interferência é mais arriscada.

Observar o Tempo da Crise: Crises epilépticas geralmente duram entre 1 e 3 minutos. Caso ultrapasse os 5 minutos, é considerado um estado crítico (estado epiléptico) e requer assistência médica imediata. Nesse caso, ligue para os serviços de emergência.

Após a Crise: Quando a crise termina, a pessoa pode ficar confusa e desorientada. É importante acalmá-la, informar que tudo está sob controle e garantir que ela permaneça em um local seguro. Permita que descanse, pois o esforço físico e cerebral durante a crise pode provocar exaustão.

Não Oferecer Líquidos ou Alimentos Imediatamente: Após uma crise, o paciente pode estar desorientado e com dificuldade para deglutir. Por isso, não se deve oferecer água ou alimentos imediatamente após o episódio.

Comunicação e Anamnese Rápida: Caso seja possível, pergunte ao paciente (ou a pessoas próximas) se ele possui histórico de epilepsia, se está em tratamento e se já vivenciou crises semelhantes. Essas informações podem ser úteis para os serviços de emergência.

Chamar Emergência em Situações Específicas: Além de crises que duram mais de 5 minutos, é necessário acionar socorro médico se for a primeira crise da pessoa, se ocorrer outra crise logo em seguida, se a pessoa se ferir durante a queda ou se não recuperar a consciência após o episódio.


FONTE DE REFERÊNCIA
CESBOM - CENTRO DE ESTUDOS PARA BOMBEIROS