Em cenários de destruição causados por incêndios, muitas vezes o que permanece são vestígios calcinados, estruturas comprometidas e dúvi...

Em cenários de destruição causados por incêndios, muitas vezes o que permanece são vestígios calcinados, estruturas comprometidas e dúvidas sobre como tudo começou. É nesse ambiente técnico e desafiador que entra em ação uma figura essencial: o perito de incêndio. Responsável por investigar com rigor e precisão científica, o perito tem a missão de determinar, com base em indícios físicos e análises técnicas, a origem e a causa do incêndio, esclarecendo o que iniciou a combustão, como ela se propagou e quais fatores contribuíram para sua intensidade e duração.
Esse trabalho exige um alto nível de especialização, pois envolve o conhecimento aprofundado de diversos campos, como química da combustão, termodinâmica, engenharia estrutural, eletricidade, comportamento de materiais, dinâmica de gases quentes, entre outros. O perito deve ser capaz de identificar padrões de queima, avaliar a disposição dos objetos no ambiente, estudar os danos estruturais e, muitas vezes, reconstruir mentalmente toda a sequência de eventos que levou ao sinistro. Além disso, é necessário atuar com imparcialidade, responsabilidade técnica e atenção aos detalhes, especialmente quando os resultados podem embasar laudos judiciais, responsabilizações civis ou penais, e processos administrativos.
Entretanto, o papel do perito não se limita apenas ao campo investigativo. As informações obtidas por meio da perícia são valiosas para todo o Corpo de Bombeiros, pois ajudam a identificar falhas de segurança, práticas de risco recorrentes, negligências em sistemas de prevenção e até mesmo oportunidades de melhoria nos procedimentos operacionais. Por isso, os resultados da investigação devem ser compartilhados com setores responsáveis por treinamento, planejamento, fiscalização e prevenção de incêndios, possibilitando um retorno prático à corporação e à sociedade.
Além disso, a atuação dos peritos auxilia na formulação de estatísticas, na revisão de normas técnicas e na atualização de protocolos, tornando-se uma ferramenta estratégica na evolução das políticas públicas de segurança contra incêndios. É por meio de seus relatórios que muitas vezes se ajustam leis, se intensificam fiscalizações ou se propõem novas exigências para edificações, equipamentos e processos industriais.
Os peritos em incêndio são mais do que investigadores técnicos: são agentes de mudança e multiplicadores de conhecimento. Seu trabalho permite não apenas entender o que causou uma tragédia, mas também evitar que ela se repita. Ao levar o resultado de suas investigações além do local do sinistro, eles alimentam o aprimoramento contínuo das ações do Corpo de Bombeiros, fortalecendo a cultura de prevenção, protegendo vidas e preservando patrimônios.
O trabalho de determinação da causa de incêndio
Em quase todos os Estados brasileiros os Corpos de Bombeiros não têm a incumbência legal de realizar a perícia de incêndio. As exceções ficam para poucos Estados e o Distrito Federal, mesmo nos casos em que o Corpo de Bombeiros trabalha juntamente com o departamento policial quando há a evidência de ação criminosa ou resultado morte.
Há localidades onde a Polícia Técnico-Científica trabalha isoladamente na investigação, como é o caso do Estado de São Paulo. De qualquer modo, independentemente do órgão, a responsabilidade pela determinação da causa e a investigação de incêndio é do Estado, sem a concorrência de outros serviços autônomos.
FONTE DE REFERÊNCIA
MANUAL DE PESQUISA DE CAUSAS DE INCÊNDIO (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)