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A História do Escafandro

Em 1837, August Siebe, como resultado de sua experiência anterior, criou o primeiro traje de mergulho completo e batizado com o nome de “...

Em 1837, August Siebe, como resultado de sua experiência anterior, criou o primeiro traje de mergulho completo e batizado com o nome de “diving-suit” (traje de mergulho). O novo equipamento era composto da união de traje e casco. O traje era confeccionado com lona cauchutada3 de grande resistência e o casco era feito de cobre, com três vigias circulares (uma dianteira e duas laterais), que permitiam ao mergulhador um amplo campo de visão. O ar penetrava pela parte superior, de forma similar aos modelos anteriores.
Roupa de lona e do escafandro modelo “August Siebe” 
Historical Diving Society - EUA

A retirada do ar expirado se realizava por meio de uma válvula localizada ao lado do casco. O ajuste do equipamento era feito por meio de uma arandela situada na parte superior do traje, próximo ao pescoço do mergulhador, que ao unir-se à base do casco por um sistema de meia volta a pressão, transformava em uma única peça.  

O escafandro de Siebe foi um sucesso, sendo adotado pelas marinhas militares de muitos países, assim como pelos mergulhadores profissionais da época. Entre tantos dados históricos, merece fazer menção dos acontecimentos que, mesmo não guardando relação direta com o invento de novos equipamentos de mergulhos, entraram diretamente na história da navegação submarina. Trata-se dos inventos dos espanhóis Narciso Monturiol e Issac Peral e Caballero. 

O primeiro inventou um submarino que batizou como Ictíneo “O Barco Peixe”, criado em 1859 e posteriormente melhorado em 1864”. Sua utilização no mar deu excelentes resultados, mas, devido ao desinteresse das autoridades da época, acabou sendo abandonado. Também acabou sendo abandonado o submarino de Issac Peral e Caballero, apesar de ter melhorado notavelmente o modelo de seu compatriota Montouriol, incorporando um inédito sistema de propulsão elétrica durante a imersão, o que lhe permitiu uma maior capacidade de tonelagem e um melhor desenho. 

Após a invenção do escafandro fechado por August Siebe em 1837, a exploração do fundo do mar ganhou, literalmente, fôlego. Por mais de 100 anos o escafandro tradicional sofreu pouquíssimas modificações e foi a principal ferramenta de trabalho dos mergulhadores. 

O escafandro é provavelmente a imagem mais fácil de ser associada à exploração submarina e pode ainda ser encontrado em uso até os dias de hoje.

Modelo de escafandro MARK V (Historical Diving Society - EUA)

Apesar do peso, da pouca mobilidade (devido ao umbilical que fornecia ar a partir da superfície) e da visibilidade limitada, o uso do escafandro permitiu a realização de façanhas simplesmente inacreditáveis ao longo dos tempos. 

Em 1885, por exemplo, o mergulhador Alexander Lambert resgatou sozinho meio milhão de dólares em moedas de ouro de uma sala forte do naufrágio do Alfonso XII a 50m, embora isto tenha custado a Lambert uma aposentadoria precoce graças a doença descompressiva.

Em 1890, arquitetos descobriram que a Abadia de Westerminster (Inglaterra) estava preste a ruir devido a infiltração de água em suas fundações. Construída no século VII, a catedral era um monumento histórico e era inaceitável perdê-la. A única saída era utilizar mergulhadores para instalar apoios nas fundações, um trabalho gigantesco para a época. 

O surpreendente é que a tarefa foi realizada por um único homem, William Walker, entre 1906 e 1911. Durante seis anos Walker mergulhou com seu escafandro 6 horas por dia em visibilidade zero para escavar 235 poços e instalar os reforços a 8 m de profundidade. 

No início do século acidentes com mergulhadores se tornavam cada vez mais graves e frequentes devido a um mal que poucos compreendiam: a doença descompressiva. Em 1906 o almirantado inglês decidiu criar um comitê para investigar o problema, nomeando o professor John Scott Haldane como seu líder. Haldane atacou os problemas do mergulho de forma científica e introduziu diversos novos equipamentos, como câmaras de descompressão e compressores mais eficientes. 

Mas ele é lembrado até hoje por ter criado o conceito de descompressão em estágios e as tabelas de descompressão. As tabelas sofreram diversas modificações durante este século, mas suas teorias são utilizadas até hoje, inclusive nos modernos computadores de mergulho, na Inglaterra é comum a expressão "Modelo Haldaniano" para designar tais tabelas. 

O grande público começou a ter contato com o mundo submarino em 1916, quando estreou nos EUA o filme 20.000 Léguas submarinas. A maioria das pessoas que assistiram ao clássico de 1954, produzidos pelos estúdios Disney, nem imaginavam que aquela é a segunda versão para o cinema da obra de Júlio Verne. Quase 40 anos antes os irmãos Williamson utilizaram escafandros para produzir a primeira versão, mostrando cenas submarinas nunca antes vistas. Como as caixas estanques ainda não haviam sido inventadas, os Williamson criaram a fotosfera, uma esfera submersa para abrigar a câmara, ligada por um longo tubo à superfície que permitia ao operador subir e descer. 

Apesar do grande interesse do público, quando o transatlântico Laurentic afundou durante a primeira guerra mundial carregando mais de 25 milhões de dólares em barras de ouro, a marinha inglesa foi obrigada a iniciar uma operação altamente secreta para não chamar a atenção dos alemães. Entre 1917 e 1924 os mergulhadores da “Royal Navy” recuperaram praticamente toda carga do interior do naufrágio a 36 m de profundidade. 

Os mergulhadores utilizavam o escafandro para executar trabalhos no mar, em pontes, portos, rios, naufrágios e em qualquer outro lugar onde houvesse água, mas apesar da evolução, a profundidade máxima ainda era limitada. Alguns mergulhadores chegaram a descer mais de 100 m com este tipo de equipamento e respirando ar, mas a narcose pelo nitrogênio praticamente impedia a execução de trabalhos mais complexos em profundidades além dos 30m.

Trabalho com Escafandro 
Historical Diving Society - EUA

Várias idéias surgiram nas primeiras décadas do século XX para romper esta barreira e uma das mais interessantes era a roupa blindada. A princípio a idéia era simples: construir uma roupa que mantivesse o mergulhador a pressão atmosférica (evitando a narcose e a descompressão) e permitisse sua movimentação através de juntas flexíveis (como um micro-submarino com braços e pernas). Em 1913 já existia um modelo operacional, denominado roupa de “Neufeldt-Khunke”, que chegou a ser utilizada com sucesso em alguns resgates. Infelizmente estas roupas apresentavam problemas, pois devido ao aumento da profundidade, a pressão "travava" as juntas e impedia que o mergulhador se mexesse. 

O impulso que faltava para o desenvolvimento do mergulho profundo veio da marinha dos Estados Unidos da América após a perda do submarino S-4 e toda a sua tripulação a 31 m. A revolta da opinião pública ao saber que a equipe de salvamento era capaz de se comunicar com os sobreviventes a bordo do submarino, mas não tinha como resgatá-los foi tanta que a marinha decidiu formar um grupo de especialistas com o objetivo de aumentar a profundidade máxima de trabalho das equipes de resgate. Entre outros projetos, o grupo começou a trabalhar na utilização de hélio nas misturas respiratórias para diminuir o efeito da narcose.

Praticamente ao mesmo tempo, o Dr. Edgar End investigava o mesmo assunto com o auxílio de dois amigos, Max Gene Nohl e John D. Craig. Após diversos testes em câmara e o cancelamento de uma expedição ao naufrágio do Lusitania (95 m), em 1937 eles se sentiam prontos para tentar superar os recordes de profundidade da época. Utilizando um escafandro desenhado por ele mesmo e que parecia mais um farol que um equipamento de mergulho, Nohl atingiu a marca de 128 m. O escafandro funcionava de modo autônomo com dois cilindros de mistura respiratória e só era ligado à superfície por um cabo guia e pela linha de comunicação.
 
Mas a prova final de que o hélio era uma alternativa viável para o problema da narcose só veio em 1939 com o afundamento de outro submarino americano. O Squalus submergiu sem fechar uma válvula e, com a água invadindo o submarino, os tripulantes não tiveram tempo de escapar e foram obrigados a refugiar-se nos compartimentos não alagados. Dos 59 tripulantes, 33 sobreviveram e ficaram presos a 75 m de profundidade. 

O Squalus foi localizado rapidamente e em poucas horas um navio de resgate estava em posição. A idéia era utilizar um novo sino de mergulho que podia se acoplar em uma das escotilhas do submarino, funcionando como um elevador para trazer os tripulantes de volta à superfície. No entanto, era preciso fixar um cabo guia ao submarino. 

Os mergulhadores tentaram fixar o cabo diversas vezes, mas a narcose e o frio impediam que eles completassem a missão. Com o tempo se esgotando, a equipe tomou uma decisão: enviar um homem ao fundo utilizando um equipamento experimental e uma mistura à base de hélio. Em poucos minutos o mergulhador prendeu o cabo e após 12 viagens do sino, os 33 sobreviventes foram resgatados. Nas semanas seguintes, a marinha realizou mais de 100 mergulhos utilizando hélio para trazer o Squalus de volta à tona na operação de salvatagem mais profunda até então. A "embriaguez das profundezas" não era mais uma barreira para a exploração do fundo do mar. 

Durante a segunda guerra o escafandro clássico continuou a ser utilizado, mas a necessidade de equipamentos mais simples e com mais mobilidade obrigou os beligerantes a aprimorar sua tecnologia. Os alemães desenvolveram o “rebreather”, que era um equipamento que reciclava parcial ou totalmente o gás exalado pelos mergulhadores, aproveitando esse mesmo gás nas próximas inspirações. 

Embora a tecnologia do Rebreather não fosse nova, pois em 1680 Giovanni Borelli4 já mencionava um equipamento de circuito fechado, e em 1726 houvesse registros de tais equipamentos sendo utilizados para o salvamento de trabalhadores de minas na Itália5, foi durante a segunda guerra que seu uso foi aperfeiçoado para operações militares anfíbias, tanto por alemães quanto por ingleses, japoneses e italianos. 

Os rebreathers eram equipamentos mais complexos que os de circuito aberto e empregados quase que exclusivamente nas operações de salvamento e combate militar, pois não foram considerados seguros para uso em mergulhos recreativos, bem como os efeitos da toxidade pelo oxigênio em profundidades maiores que 10m limitava a aplicação deste tipo de equipamento.

Modelo inicial de rebreather

Era preciso encontrar uma forma de libertar os mergulhadores e, embora diversos pioneiros tenham demonstrado soluções para o problema durante a década de 30, foi preciso esperar até 1943 para que dois franceses, Jacques-Yves Cousteau e Emile Gagnan cortassem de forma definitiva os umbilicais, criando o Aqualung e dando início a um novo capítulo da história do mergulho. 


FONTE DE REFERÊNCIA
MANUAL DE OPERAÇÕES DE MERGULHO (CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO)